Arquidiocese de Botucatu poderá contar com um bispo auxiliar em razão de dom Maurício enfrentar problemas de saúde
15/03/2024
Arquidiocese de Botucatu poderá contar com um bispo auxiliar em razão de dom Maurício enfrentar problemas de saúde

                                           Dom Maurício tem problemas ortopédicos e um bispo auxiliar pode ajudá-lo

 

Aos 66 anos, dom Maurício, que acaba de completar quinze anos na função de arcebispo, enfrenta problemas de saúde e tem limitações para pastorear o seu grande rebanho

 

Gesiel Júnior

Especial para A Tribuna

 

Conforme estabelece o Código de Direito Canônico, conjunto de normas jurídicas que rege a Igreja Católica, no parágrafo 1º do Cânon 403, “quando as necessidades pastorais da diocese o aconselharem, sejam constituídos, a pedido do bispo diocesano, um ou vários bispos auxiliares”.

É o que vem ocorrendo na Arquidiocese de Botucatu, onde o titular, que acaba de completar quinze anos na função de arcebispo, enfrenta problemas de saúde, o que o tem impedido de visitar as paróquias e administrar a crisma, da qual é o ministro ordinário.

Prudentino, nascido em 1957, dom Maurício Grotto de Camargo é o oitavo bispo e o quinto arcebispo de Botucatu. Aos 66 anos, ele aparenta mais idade por conta da vasta barba grisalha e, em novembro último, no fim de celebração solene na qual ordenou três diáconos, na Catedral de Sant’Ana, admitiu estar com “sérios problemas na carne, como diria o apóstolo Paulo”.

Após a bênção final, o arcebispo surpreendeu ao dizer ser importante que o povo soubesse: “Não estou muito lá, legal, esses dias. É problema ortopédico: coluna, ombro. E a cabeça então varia um pouco, mas é culpa minha”, revelou, pedindo desculpas aos padres e aos fiéis.

Ninguém na Cúria de Botucatu, porém, comenta sobre o estado de saúde de dom Maurício, embora haja versões que apontem até para necessidade de cirurgia, a fim de eliminar os incômodos musculares dos quais ele se queixa.

O Direito Canônico, no parágrafo 4 do Cânon 377 assim indica: “O bispo diocesano que julgue dever dar-se à sua diocese um auxiliar, proponha à Sé Apostólica um elenco de três presbíteros mais aptos para este ofício, se não tiver sido legitimamente providenciado de outro modo”.

 

O único bispo auxiliar de Botucatu

Se dom Maurício optar por pedir ao papa Francisco a nomeação de um prelado para auxiliá-lo, esta será a segunda vez que isto ocorre na história do bispado botucatuense, criado há 115 anos.

Até hoje o primeiro e único bispo auxiliar de Botucatu foi dom Sílvio Maria Dario (1919-1974). Solicitou sua nomeação, em 1965, o primeiro arcebispo metropolitano, dom frei Henrique Golland Trindade (1897-1974), que então tinha 68 anos de idade e reconhecia a necessidade de ajuda em suas tarefas pastorais.

Dario, que antes havia secretariado a Cúria por vinte anos, participou do Concílio Vaticano II, fez visitas pastorais e ordenou três padres. Ficou no cargo por apenas três anos, pois o papa São Paulo VI designou-o para ser o primeiro bispo de Itapeva, diocese instalada em 1968.

Mais de meio século depois desse período, o arcebispado teve outros quatro titulares e nenhum quis pedir prelados para auxiliá-los. A propósito, em conversa com dom Vicente Zioni, recordista na função arquiepiscopal (ele a exerceu por vinte anos e cinco meses), este me respondeu de maneira espirituosa, se gostaria de ter um bispo auxiliar: “Melhor é não tê-lo, não vê-lo e não sê-lo”. Contudo, ele próprio assim iniciou o seu episcopado em São Paulo, entre 1955 e 1964.

 

Bispo coadjutor de Assis

Nomeado pelo papa São João Paulo II, em 3 de maio do Ano Santo de 2000, aos 42 anos de idade, como bispo coadjutor de Assis, o então padre Maurício Grotto de Camargo sabia que, após a sagração episcopal, estava lhe garantido canonicamente o direito à sucessão na cátedra dessa diocese, fato ocorrido em 2004, quando o hoje nonagenário dom Antônio de Sousa completou 75 anos e renunciou ao posto por idade.

Em novembro de 2008, o papa Bento XVI o promoveu a arcebispo de Botucatu e hoje ele é o terceiro com mais tempo na função, tendo recentemente superado o primeiro bispo, dom Lúcio Antunes de Souza (1863-1923), que governou a Igreja botucatuense por catorze anos e oito meses.

Contudo, dom Maurício, que a maioria da juventude católica da região pouco conhece (raramente ele preside as crismas), pode permanecer no cargo até 26 de setembro de 2032, data em que completará 75 anos e tornar-se-á arcebispo emérito, obtendo sua aposentadoria compulsória, segundo estabelece o Direito Canônico. E se isso se confirmar ele baterá o recorde como o prelado com o mais longo tempo de assento na cátedra de Botucatu.

A Arquidiocese de Sant’Ana tem cerca de trezentos mil batizados nos vinte municípios de seu território, hoje dividido em 47 paróquias, agrupadas em quatro regiões pastorais. Desse número do IBGE sequer um terço pratica a fé, o que mostra ser viável – à luz das propostas sinodais em voga – o pedido de um bispo auxiliar para intensificar o serviço missionário.

De qualquer maneira, a hipótese de alguma mudança na hierarquia católica da região está em aberto, mesmo que nenhum representante do clero ouse falar a respeito da evidente necessidade da vinda de outro bispo “para ser pastor, próximo das pessoas, pai e irmão, com grande mansidão: paciente e misericordioso”, conforme o papa Francisco define a sacralidade da missão episcopal.

 

*Gesiel Júnior, 60, cronista e pesquisador, ex-aluno do Seminário Arquidiocesano de Botucatu, é membro da Academia Botucatuense de Letras e autor de 49 livros, dos quais a maioria versa sobre a história da Igreja na região.

 

     Dom Sílvio Maria Dario em 1965


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