Estudo da HCFM da Unesp de Botucatu aponta potencial alvo para tratar a Covid-19
15/04/2020
Estudo da HCFM da Unesp de Botucatu aponta potencial alvo para tratar a Covid-19

Professor Robson Carvalho, que coordenou o estudo, ao lado dos estudantes Sarah Santiloni Cury e Diogo de Moraes

Foto - Unesp/Divulgação

 

Este trabalho liderado por Robson Carvalho foi iniciado há aproximadamente um ano e estava voltado para o estudo da caquexia (síndrome que acompanha pessoas com câncer) em pacientes com câncer de pulmão

 

Um estudo recém-concluído na Unesp, coordenado pelo professor Robson Carvalho, do Instituto de Biociências (IBB) do câmpus de Botucatu indicou um alvo que pode orientar um potencial tratamento para a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Segundo os pesquisadores, a resposta pode estar em um gene chamado TRIB3. O artigo foi publicado como preprint (projeto de artigo científico que ainda não foi publicado em periódico científico) na plataforma bioRixv.

A pesquisa apontou uma alteração na expressão desse gene, responsável pela produção de uma proteína que, segundo predição computacional, tem potencial para interagir com proteínas do vírus SARS-CoV-2 em células epiteliais do pulmão (que fazem o revestimento interno do órgão). O gene TRIB3 diminui sua expressão em indivíduos idosos do sexo masculino, o que ajudaria a explicar a manifestação de sintomas mais graves da Covid-19 nessa população.

"Dado que a TRIB3 foi anteriormente relatada como capaz de diminuir a infecção e a replicação de outros vírus, a diminuição da expressão de TRIB3 nos pulmões durante o envelhecimento pode ajudar a explicar por que pacientes idosos do sexo masculino estão relacionados a casos mais graves da Covid-19. Dessa forma, medicamentos que estimulem a expressão da TRIB3 devem ser avaliados como um tratamento potencial para a doença", conclui o artigo.

 

O estudo

Os pesquisadores utilizaram dados de sequenciamento de RNA de 427 amostras pulmonares para avaliar o transcriptoma (conjunto de moléculas de RNAs que são produzidas em um tecido, e que refletem a expressão dos genes). Esses dados continham informações por faixas etárias dos indivíduos, dos 20 anos até os 79 anos. O grupo de cientistas passou a cruzar esses dados com diversas bases de dados abertas sobre a Covid-19 e informações sobre estudos anteriores relacionados à temática.

Esse cruzamento permitiu predizer potenciais interações moleculares entre proteínas pulmonares e proteínas virais. Essa análise identificou que a proteína TRIB3 apresenta alta probabilidade de interagir com a proteína do SARS-CoV, vírus da SARS utilizado como base para o estudo em razão de possuir grande similaridade na estrutura com o SARS-CoV-2. O grupo também utilizou dados de sequenciamento de RNA de célula única (do inglês, single-cell RNA sequencing), o que possibilitou identificar o conjunto de moléculas de RNAs que são produzidas em cada célula do pulmão.

"Com isso, conseguimos olhar para cada célula do pulmão e identificamos onde o gene TRIB3 é expresso. E encontramos que esse gene é expresso principalmente em células que também expressam o gene ACE2, o qual é responsável por codificar o receptor que o SARS-CoV-2 utiliza para infectar as células pulmonares", conta o professor. "A TRIB3 tem o potencial de interagir com proteínas do vírus e isso pode, por exemplo, diminuir a replicação do vírus dentro da célula, como já demonstrado para o vírus da hepatite C. Ou seja, existe a possibilidade de que uma interação da TRIB3 com proteínas do SARS-CoV-2 iniba o ciclo biológico do vírus".

De acordo com o pesquisador, na Europa, já existe uma empresa espanhola realizando ensaios clínicos com um medicamento contra câncer de endométrio capaz de aumentar a expressão da TRIB3. Além dele, assinam o artigo Diogo Moraes, Brunno Paiva, Sarah Santiloni Cury e João Pessoa Araújo Jr., todos da Unesp, e Marcelo Mori, da Unicamp.

 

Mudança no caminho

Este trabalho liderado por Robson Carvalho foi iniciado há aproximadamente um ano e estava voltado para o estudo da caquexia (síndrome que acompanha pessoas com câncer) em pacientes com câncer de pulmão. O grupo estudava o perfil da expressão gênica ao longo do envelhecimento do pulmão. Com a eclosão da pandemia de Covid-19, em março, os cientistas redirecionaram o trabalho para estudar a doença causada pelo novo coronavírus. O estudo foi apoiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

"A nossa ideia inicial era identificar moléculas que são secretadas pelo pulmão e que podem eventualmente atuar em outros órgãos e tecidos. Conversamos e pensamos - se estamos analisando moléculas liberadas pelo tumor do pulmão que podem atuar em outros órgãos, poderíamos pensar em uma abordagem semelhante e avaliar a interação entre proteínas pulmonares e proteínas do vírus da Covid-19", explica Carvalho. "E uma das motivações foi o fato da Covid-19 ser prevalente em pessoas idosas, principalmente a sua forma mais grave".

Fonte - JCNET


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